sábado, 23 de setembro de 2017

À beira-mar

Se os versos em mim fluíssem
Como um rio flui para o mar
Escrever-te-ia poesia sem fim...
Resmas de poemas a enaltecerem-te,
A tentarem-te descrever em palavras.
Tentativa essa infrutífera,
Dado que para o efeito é preciso ver-te...

Ver-te como te vejo,
Ver as subtilezas do teu rosto quando sorris
Cada detalhe, cada olhar, cada nuance que ocorre.

Só assim és descritível:
pelos meus olhos.

Qualquer outra definição é
Incorreta
Incompleta
Não te compreende.

Cada olhar,
Cada toque,
És tu,
Por seres tu,
E é como te defino:
Experienciando-te.

Não me adianta descrever-te.
Tu és tu comigo,
O que me fazes sentir
Como me fazes olhar para o Mundo
Como me completas.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Existência

Moribundo navego no meu interior
Ainda que inspirado.

Na viagem onde a inspiração é, por si só,
Melancólica, dolorosa,
Mas que, na aura soturna que trago,
Me arrepia e me faz contemplá-la.

Ouvir esses versos
Essa voz doce, cheia, hipnotizante,
Que me liberta da minha condição...

Beber desses versos
Como quem mata a sede
E me faz evadir
Não para um cenário feliz,
Mas para uma condição fora do meu corpo,
Aérea, nublosa, ataráxica.
E quente...

Como quem recebe o abraço despido de quem ama,
Como quem sente as lágrimas salgadas a humedecer o rosto
Que exteriorizam sentimentos,
Os quais já me são estranhos.

Vão-se os sonhos com o vento
Numa rajada fria que os corta e despedaça.
Sonhos esses tão frágeis, tão simples
Mas que, por tanto tormento causarem,
Vi-os a ir, a deixarem-me...
Como quem observa o vento a, simplesmente ir...

Oiço esses versos quando me lembro dos meus sonhos.
E essa parte de mim,
Que se emociona com esses versos,
Essa sente, essa chora...

Pelo que, de mãos atadas viu ir embora,
Sufocada pelas próprias mãos,
Sucumbida à passividade
De quem se conforma
Com não poder ter sonhos.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Branca

Deus, a Noite lava-me mesmo a alma por completo...
É tarde e sinto uma abstração tamanha,
Uma não-capacidade de me concentrar seja em que pensamento for...

Só estes versos fluem...
Como o vento lá fora...
E neles vão sentimentos que vivencio
E neles me resguardo e me detenho
Quando o sono me devia deter a mim...

É triste ter de trabalhar o dia todo
E à noite,
Só este sentimento de cansaço me faz escrever poesia...
Ou algo que se pareça...

Sinto-me a cair num Vazio de cor branca
Em que a leveza e a inexistência predominam
E um estranho conforto
Apesar de nada haver para existir...

E um leve sorriso esboço na cara,
Não de felicidade,
Mas de realização.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Amar-te

Este verbo que nunca perde o sentido quando estou contigo.
Que nunca o vejo como redundante,
mas sim fresco, catártico, sonhador...
Intrinsecamente ligado a ti, só a ti meu Amor.
Quando olho para as Estrelas,
São elas que vejo quando penso em Ti.
O calor daquelas que me aconchega
Me faz ver-te pintada num céu escuro
De luzes brancas, a sorrir para mim.
E cada nuvem é como se te envolvesse
Te protegesse e te guardasse.

E o Vento?
Esse lembra-me o quão momentânea a vida é
O quão fugaz a vida pode ser
E assusta-me.
E isso faz-me estimar-te, cuidar de Ti, amar-te...
Que o vento nunca consiga levar a Nuvem e o Céu é o que quero.

Esta Nuvem, agora interior, mutante, sem forma definida
Mas quente, aconchegante, de todas as cores e feitios,
Que é inimitável, somos nós que a criamos.
Ela é o que nós queremos.
Tem os nossos contornos.
E por isso é perfeita.
Ela é inspiração
É alegria
É orgulho
É tudo o que eu quero.

És tanta inspiração em todo o lado,
És tudo para onde olho,
Tudo o que me apela aos sentidos
Tudo se parece contigo
E com tudo o que em ti me apraz
Que é tudo...

E há inspiração à minha volta e a arte nasce,
Ou, pelo menos, o amor renova-se...
E cresce...

terça-feira, 12 de julho de 2016

O banco do jardim

Quando nos sentámos no banco do jardim
Que vai ser sempre o nosso banco
Verde-escuro,de madeira à ripas, velho
Onde já tantos como nós se sentaram
E sentiram que o mundo lhes pertencia
A um e ao outro e aos dois juntos.

Deixa-me saborear estas lágrimas
Que percorrem a minha cara de alto a baixo
Quentes como a tarde em que estivemos juntos
Molhadas como o rio que contemplávamos de mãos dadas
Transparentes como o meu olhar quando se cruzava com o teu,
Mas não o teu...

Sinto o calor de quem teve tudo
Quem perdeu tudo
Porque estragou tudo.

E retorno a esse banco vezes sem conta
Onde nos demos um ao outro
Vejo a tua voz,
Oiço o teu olhar.
Saboreio o teu riso...
Com a vista mais bonita de todas à nossa frente
Mas da qual não me lembro de nada.
Pois só me dizia algo
Porque te tinha no banco ao meu lado.

Dava tudo para voltar a esse banco
E poder ouvir a tua voz meiga de novo a falar comigo
Poder sentir a tua mão na minha em cima do banco.
Poder devolver-te o abraço que desencadeou tudo isto.
Poder fazer-te crer que não estás só.
Poder repetir os beijos fugazes às escondidas do mundo
Só com o rio e o banco como testemunhas...

Natal

Se pudesse dava-te tudo
Tudo o que mereces
Porque mereces tudo
E tudo para mim és tu
E tendo-te a ti tenho tudo
E és tudo o que tenho.
És o meu passado e presente
E contigo construo
E quero construir o meu futuro
Porque o futuro é já
E só quero que não acabe
E que o nosso amor nunca acabe
E é nesta linha infinita cíclica
Que vivemos e amamos
É onde nos renovamos
Com sentimentos do passado
E a força do presente
A consolidar um futuro.
Passado um ano
Tenho a mesma certeza do Natal passado
És o meu Natal
E tudo o que quero e amo.

domingo, 14 de julho de 2013

Cenários 1

Passo...Passo...
Neste corredor alto e frio
Ando confiantemente
Mas, por dentro, sinto as preocupações do Mundo
A ecoarem-me nos ouvidos

Oiço vozes de coisas que aconteceram
Oiço-me a dizer o que tenho que fazer
E cá fora só ando.
E contemplo
Este corredor de mármore
Com janelas enormes e cortinas brancas
Portas? Não sei... Não as vejo...
Tento-me desconcentrar do que tenho que fazer
Mas não consigo...
Cá dentro são tantas as nuvens cinzentas que pairam, inquietas,
Que delas não me abstraio...
Um sofá cor de vinho, sento-me.
Só vejo a janela enorme, lá fora sei que está alguma coisa
Mas a Luz Branca ofusca tudo, o que é ela?
Imaterialidade de paz que conforta, mas que não o faz.
Limita-se a estar lá fora, em vez de me entrar coração a dentro.
E me livrar de TODAS as preocupações do Mundo.
Deus, como é que tantas nuvens cabem numa só cabeça?
E não sou eu que as ponho lá... Puseram-mas...
A maldita dependência e maldade das pessoas que dependem das pessoas
Para lhes retirar a felicidade que têm...
E, apesar de não ficarem com essa felicidade
Continuam a fazê-lo...
Ininterruptamente...